Lixo na floresta: pesquisa mostra alta quantidade de resÃduos sólidos em região da Amazônia
Publicado em: 10 de dezembro de 2019
Foram encontrados produtos de origem internacional entre resÃduos coletados em área do Médio Solimões, na Amazônia Central. Pesquisadora de iniciação cientÃfica ainda deve verificar presença de microplástico no solo
Uma garrafa peruana de Coca-Cola da edição especial de natal de 2016 no Peru foi encontrada em 2019 em região de floresta da região do Médio Solimões, Amazônia Central.
A embalagem foi coletada durante pesquisa do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) do Instituto Mamirauá com o objetivo de identificar e classificar resÃduos sólidos encontrados em florestas de várzea, ecossistema amazônico alagável caracterizado pela dinâmica de cheias e secas.
A pesquisa que conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento CientÃfico e Tecnológico (CNPq) começou em agosto conduzida pela estudante de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), Zeneide Silva.
"Os resultados propõem um questionamento. Afinal, como que uma garrafa de Coca-Cola como essa, do Peru, vem parar no meio da floresta amazônica três anos depois de fabricada? ", questiona Elias Neto, o coorientador do projeto e pesquisador do Grupo de Pesquisa em Ecologia Florestal do Instituto Mamirauá, organização social fomentada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
Para o estudo, Zeneide coletou resÃduos em cinco parcelas, áreas de um hectare cada definidas previamente e onde são realizadas pesquisas do GP Ecologia Florestal. As áreas de amostragem estão localizadas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, unidade de conservação da região de várzea.
A coleta aconteceu entre os dias 11 e 13 de novembro em metade das parcelas – que totalizou 2,5 hectares. Para o campo, os pesquisadores aproveitaram a mesma logÃstica do grupo de pesquisa, que realiza medições anuais nas parcelas.
A cada hectare, 600 gramas de lixo
Foi encontrada uma média de 600 g de resÃduos sólidos por hectare para esse tipo de floresta de várzea, o equivalente a 60% da produção diária de lixo por pessoa no Brasil.
O número, de acordo com Elias, pode ser considerado alto. "Apesar de não termos outras pesquisas como parâmetro, encontramos uma média de 15 itens de resÃduos por hectare – o que eu considero muita coisa", afirma.
Plástico é maioria
Os itens encontrados foram variados, como escovas, embalagens de produtos cosméticos, bacias, pedaços de brinquedos, copos e utensÃlios domésticos.
Na composição dos resÃduos, o material se dividiu entre 84% de plástico, 8% de borracha e 8% de isopor.
"Alguns produtos já se encontravam com a embalagem deteriorada, mas, em alguns, conseguimos identificar o código de barras", explica Elias. Com essa identificação, os pesquisadores detectaram, além da garrafa de refrigerante proveniente do Peru, a origem estadunidense de um selante de silicone.
As hipóteses sobre como os resÃduos chegaram até uma área central da floresta amazônica são diversas: o lixo pode ter sido proveniente de descarte inadequado nas cidades próximas, como Tefé, e levado até a floresta pelos rios, ou vindo de barcos que passam pela região. "A grande questão é por que ele foi parar lá", explica o pesquisador.
Os pesquisadores querem ampliar a área de amostra para entender melhor a dimensão do problema de poluição por resÃduos sólidos na floresta amazônica. Para isso, entretanto, necessitam de financiamento, já que os custos com logÃstica e análises são altos.
Presença de microplástico no solo
Durante a expedição, também foram coletadas amostras de solo, que estão em fase de análise pela estudante.
O objetivo é identificar se há a presença de microplásticos no solo da região, materiais ligados à intoxicação.
"Se encontrarmos microplástico nesse solo coletado, vai ser interessante continuar e fazer mais pesquisas", afirma a jovem.
Elias afirma que já foi detectado esse tipo de material em peixes amazônicos e as consequências da contaminação na fauna e na flora ainda são pouco conhecidas. Deve-se, de acordo com o engenheiro florestal, tentar entender se é possÃvel haver algum tipo de impacto desses materiais na capacidade de regeneração da floresta.
O pesquisador defende que o estudo, que finaliza em julho do ano que vem, deve abrir portas para novas pesquisas sobre a temática na região. "Se a gente encontrar na floresta amazônica, um dos lugares mais remotos da Terra, quem garante que não pode ser encontrado em qualquer outro lugar? ", pergunta.
Texto: Júlia de Freitas
Últimas Notícias
Comentários
Institucional
- O Instituto Mamirauá
- Equipe
- Parceiros
- Áreas de atuação
- Conheça Tefé
- Núcleo de Inovação
- Vagas
- Documentos e Downloads
- Seleção de Fornecedores
Pesquisa
- Grupos de Pesquisa
- Iniciação Científica
- Ética em Pesquisa
- Ética no Uso de Animais
- Propostas de Pesquisas
- Biblioteca Henry Walter Bates
- Acervos e Coleções
- SNCT
- SIMCON
Manejo e Desenvolvimento
- Gestão Comunitária
- Manejo de Agroecossistemas
- Manejo de Pesca
- Manejo Florestal Comunitário
- Qualidade de Vida
- Turismo de Base Comunitária
- Centro Vocacional Tecnológico